quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O que realmente é verdadeiro?


"Na verdade, não há muito o que entender. As emoções simplesmente são. Nem boas nem ruins, apenas existem. Eis algo que vai ajudá-lo a entender melhor. Os paradigmas dão força às percepções e as percepções dão força às emoções. Não se assuste, vou explicar. A maioria das emoções são reações aquilo que você percebe: o que acha verdadeiro numa determinada situação. Se a sua percepção for falsa, sua reação emocional a ela também será falsa. Então verifique suas percepções e além disso verifique a verdade de seus paradigmas, dos seus padrões, daquilo em que você acredita. Só porque você acredita firmemente numa coisa não significa que ela seja verdadeira. Disponha se a reexaminar aquilo em que acredita. Quanto mais você viver na verdade, mais suas emoções irão ajudá-lo a ver com clareza." (William P. Young)

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Cinzas


... Por favor, não me empurre de volta ao sem volta de mim, há muito tempo estava acostumado a apenas consumir pessoas como se consomem cigarros, a gente fuma, esmaga a ponta no cinzeiro, depois vira na privada, puxa a descarga, pronto, acabou. Desculpe, mas foi só mais um engano? E quantos ainda restam na palma da minha mão? Ah, me socorre que hoje não quero fechar a porta com essa fome na boca...

É feio? Sinceramente não sei, mas é triste. Amores desperdiçados, amigos substituídos e assim foi por muito tempo. Tudo sempre foi superficial demais, custava caro manter os relacionamentos. Hoje o gosto das cinzas ainda estão na minha boca, esperando o momento de engolir a seco tudo que sobrou do passado. Sou a mesma, mas algo mudou. Não quero mais perder ninguém, ser inteira em todos os sentimentos. E, quando a compreensão daquilo que eu não queria entender for claro o suficiente, a fome não estará mais em minha boca e o coração estará aberto para novos sentimentos. Sempre estarei aqui para aprender com a vida. Quero sempre mais...

(Caio Fernando)

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Lua de mel

Seguindo a sugestão do sogro, não quis investigar as causas da mudança da esposa. Tratou de extrair o máximo possível da situação, tanto mais que passara a viver num regime de lua-de-mel. Dias depois, porém, recebe uma minuciosíssima carta anônima, com dados, nomes, endereços, duma imensa verosimilhança. O missivista desconhecido começava assim: "Tua mulher e o Cunha...". O Cunha era, talvez, o seu maior amigo e jantava três vezes por semana ou, no mínimo, duas, com o casal. A carta anônima dava até o número do edifício e o andar do apartamento em Copacabana onde os amantes se encontravam. Filadelfo lê aquilo, relê e rasga, em mil pedacinhos, o papel indecoroso. Pensa no Cunha, que é solteiro, simpático, quase bonito e tem bons dentes. Uma conclusão se impõe: sua felicidade conjugal, na última fase, é feita à base do Cunha. Filadelfo continuou sua vida, sem se dar por achado, tanto mais que Jupira revivia, agora, os momentos áureos da lua-de-mel.

Certa vez jantavam os três, quando cai o guardanapo de Filadelfo. Este abaixa-se para apanhar e vê, insofismavelmente, debaixo da mesa, os pés da mulher e do Cunha, numa fusão nupcial, uns por cima dos outros. Passa-se o tempo e Filadelfo recebe a noticia: o Cunha ficara noivo! Vai para casa, preocupadíssimo. E, lá, encontra a mulher de bruços, na cama, aos soluços. Num desespero obtuso, ela diz e repete: “- Eu quero morrer! Eu quero morrer!" Filadelfo olhou só: não fez nenhum comentário. Vai numa gaveta, apanha o revólver e sai à procura do outro. Quando o encontra, cria o dilema: “- Ou você desmancha esse noivado ou dou-lhe um tiro na boca, seu cachorro!”

No dia seguinte, o apavorado Cunha escreve uma carta ao futuro sogro, dando o dito por não dito. À noite, comparecia, escabreado, para jantar com o casal. E, então, á mesa, Filadelfo vira-se para o amigo e decide: “- Você agora, vem jantar aqui todas as noites!”Quando o Cunha saiu, passada a meia-noite, Jupira atira-se nos braços do marido: “- Você é um amor!”

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

DENTRO

dentro!

dentro dos seus grandes olhos lagos
dentro dos seus grandes lábios logo
dentro do seu grande peito fogo
dentro de sua grande alma anjo
dentro de seu corpo gente
dentro de mim

dentro de sua boca riso
dentro da cabeça sonho
dentro de seu braço arco
dentro de sua pele febre
dentro de sua vida laço
dentro de mim

dentro em breve,
dentro em breve...
dentro de mim.

dentro do cabelo pente
dentro do tecido saia
dentro do desejo beijo
dentro do quarto crescente
dentro do seu centro entro
dentro de mim

dentro do seu filho parto
dentro da família ente
dentro do umbigo rente
dentro da pessoa sempre
dentro da sua semente
dentro de mim

dentro em breve,
dentro em breve...
dentro de mim

dentro do possível hoje
dentro do limite urgente
dentro de onde você mora
dentro do calor da hora
dentro de você agora
dentro de mim

dentro em breve,
dentro em breve...
dentro de mim.

dentro em breve,
dentro em breve...
você precisa!


(Chico César)

Amizade

"Você e eu somos amigos, há uma prontidão dentro do nosso relacionamento. Quando nos vemos ou quando estamos separados, há uma prontidão de estarmos juntos, de rimos e falarmos. Essa prontidão não tem definição concreta: é viva, dinâmica e tudo que emerge do fato de estarmos juntos é um dom único que não é compartilhado com mais ninguém. Mas o que acontece se eu mudar [b]prontidão[/b] por [b]expectativa[/b], verbaliza ou não? Subtamente a lei entra em nosso relacionamento. Agora você [i]espera[/i] que eu aja de um modo que atenda às suas expectativas. Nossa amizade viva se deteriora rapidamente e se torna uma coisa morta, com regras e exigências. Não tem mais haver com nós dois, mas com o que os amigos [i]devem[/i] fazer ou com as responsabilidades de um amigo." (William P. Young)

domingo, 11 de julho de 2010

Não sei...

"...Mas, conquanto não pode haver desgosto
onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê.

Que dias há que n'alma me tem posto
um não sei quê, que nasce não sei onde,
vem não sei como, e dói não sei porquê."

(Luis de Camões)

Soneto da Perdição

"... Murcham flores nos campos por que passo
Exilado em angústias já maduras.
O que sou não sei bem, nem o que faço.
Débil luz entrevejo nas clausuras
Das fatais emoções em que desfaço
A antiga vocação das coisas puras.

Viajante que perdeu os seus roteiros
Por querê-los é que ando em desatino...

Quanto mais de meus rumos me aproximo
Mais sinto que de mim próprio me afasto."

(João Carlos Teixeira Gomes)